Quilombo está sob ataque de jagunços há 4 dias no Maranhão: “Estão dizendo que vão meter bala”

Desde a última sexta-feira (10), o Quilombo Tanque de Rodagem, em Matões, no Maranhão, está sob ataque de funcionários armados… [ ]

15 de setembro de 2021

Desde a última sexta-feira (10), o Quilombo Tanque de Rodagem, em Matões, no Maranhão, está sob ataque de funcionários armados dos fazendeiros Eliberto Luiz Stein, dono da Stein Telecom, e Silvano Oliveira, empresários do Paraná que adquiriram uma área que fica dentro do território quilombola, onde pretendem investir no monocultivo de soja.

A acusação é dos moradores do quilombo e da  Comissão Pastoral da Terra (CPT), que está no local, prestando auxílio aos quilombolas.

“Eles estão dizendo que vão acabar com a gente, que vão meter bala, que vão meter pancada na gente. Lá em cima tem gente em desespero já”, afirma Luanice Ribeiro, uma das lideranças quilombolas na região.

Segundo a CPT e os quilombolas, Stein está em Matões, coordenando pessoalmente as ações dos funcionários. No sábado (11), os fazendeiros usaram correntões para desmatar uma área dentro do Tanque de Rodagem – crime ambiental, o que revoltou os moradores do quilombo – , que decidiram fechar a rodovia MA-262, que passa em frente da propriedade (no final da matéria, galeria de imagens com fotos do uso de funcionários usando os correntões na área).

Com o trânsito de carros e tratores impedidos pela comunidade, os funcionários de Stein passaram a ameaçar os quilombolas.

“O clima tá tenso, está um desespero, está a coisa mais feia que você possa imaginar. Estamos sendo ameaçados direto pelos capangas da empresa de Eliberto, tem idoso e tem crianças pelo meio. Eles estão ameaçando que hoje ainda…vai acontecer uma tragédia aqui com a gente. Eles estão ameaçando que até 18h, eles vão meter a porrada na gente, pra gente liberar a rodovia”.

Advogado da CPT, Rafael Silva, que está em Matões, alerta. “De sexta para cá, a coisa tomou uma proporção que a qualquer momento pode acontecer uma tragédia lá”.

“Eles (Eliberto Stein e Silvano Oliveira) adquiriram esse imóvel esse ano, nunca tinham pisado lá. A comunidade, só para você ter noção, o processo administrativo no Incra é de 2013. Eles não tem autorização judicial para entrar na comunidade. Eles estão usando a violência para destruir a comunidade quilombola.”

Servidores da Secretaria de Igualdade Racial do Maranhão foram impedidos por funcionários dos fazendeiros de acessar a área em disputa. Usando um carro e um caminhão, eles trancaram a rodovia (ver vídeo no final da matéria).

Por volta de 16h30, desta terça-feira (14), a polícia interpelou os funcionários dos fazendeiros e os revistou na rodovia. O delegado responsável pela Superintendência de Polícia Civil do Interior (SPCI), Guilherme Luiz Campelo dos Santos, informou que já estão sendo realizadas investigações sobre o caso.

“No que compete à polícia civil, no interior, desde que tomamos conhecimento do fato mandamos equipe ao local para identificar supostos “jagunços” e proceder as investigações de polícia judiciária. Participam do acompanhamento do caso a Delegacia de Combate a Conflitos Agrários e a Regional de Timon. Inclusive neste exato momento temos equipe do GPE e da Delegacia de Matões acompanhando o movimento e procedendo às investigações”, disse Santos.

Histórico

Os primeiros quilombolas a ocuparem a área onde está o Quilombo Tanque de Rodagem chegaram na década de 1970. O terreno fica na beira da rodovia MA-262, onde os moradores já organizaram a divisão do território, com casas e plantações para o sustento da comunidade.

Desde 2013, tramita no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) o processo de reconhecimento da área como território quilombola. No entanto, a última movimentação no processo do Tanque de Rodagem foi em 2017. Sem a documentação definitiva da posse, os moradores não conseguem avançar com a regulamentação das moradias e nem acessam linhas de crédito para a produção agrícola.

Informações Brasil de Fato.

0 Comentários

Deixe o seu comentário!